As infecções fúngicas vêm ganhando maior atenção desde a década de 80, devido ao aumento de pacientes imunocomprometidos em consequência do surgimento da AIDS (além de casos relacionados a doenças hematológicas, pós-cirúrgicos, pós-transplantados ou em terapia contra o câncer) . Entre as principais infecções fúngicas oportunísticas encontram-se as causadas pelos fungos Candida sp., Aspergillus sp, e Cryptococcus sp..
A cripptococose é a doença causada pelos fungos C. neoformans e C. gattii . A infecção ocorre através da inalação de leveduras ou esporos do fungo, que podem causar uma doença pulmonar onde a infecção pode permanecer de forma latente ou oligossintomática por um longo período. Os casos podem evoluir com disseminação pelo sangue , com predileção especial pelo sistema nervoso central (SNC). É importante ressaltar que a espécie Cryptococcus neoformans atinge, principalmente, os pacientes imunocomprometidos, enquanto que a espécie Cryptococcus gattii pode, também, acometer os indivíduos imunocompetentes (LIN; HEITMAN, 2006).
Fonte CDC/PHIL
A criptococose tem um papel relevante, pois é considerada uma das micoses mais comuns em pacientes com síndrome da imunodeficiência humana adquirida (SIDA), produzindo lesões, principalmente, no SNC. De modo geral, o tratamento de doenças fúngicas pode ser considerado escasso, pois o arsenal terapêutico é limitado por problemas de seletividade, toxicidade e perfis de resistência dos fungos aos antifúngicos disponíveis. O desenvolvimento de antifúngicos é muito mais complexo que antibacterianos, principalmente pelo fato das células fúngicas serem muito semelhantes às nossas células. No caso da terapia das criptococoses o tratamento é ainda mais reduzido, sendo o uso de anfotericina B e suas formulações lipídicas, fluconazol e a combinação de anfotericina B e 5-fluorocitosina, as terapias indicadas (PERFECT et al., 2010). A anfotericina B é considerada a droga padrão ouro para tratar essas infecções fúngicas, porém tem seu uso limitado devido ao fato de ser tóxica para o organismo humano causando efeitos de hepatotoxicidade (danos ao fígado) e nefrotoxicidade (danos aos rins). Devido a isto, é de extrema importância a pesquisa de novas drogas e formulações com eficácia para tratamento de infecções fúngicas.
A miltefosina é uma alternativa para tratamento de doenças fúngicas. Ela tem apresentado boa atividade contra diferentes espécies de leveduras e fungos filamentosos, entre eles Cryptococcus sp., entretanto, apresenta uma alta toxicidade. Uma das estratégias empregadas pela tecnologia farmacêutica para diminuir a toxicidade e melhorar a farmacocinética/biodisponibilidade de fármacos é a utilização de micro/nanopartículas.
Fonte Wikipedia
As micropartículas são esféricas e podem medir até 1000 µm, suas características podem variar conforme os materiais utilizados para sua produção. O alginato é um polímero natural produzido por bactérias e algas marrons e o interesse nele para uso em sistemas de liberação de drogas em micro- e nanopartículas tem ganhado lugar e crescimento constante na literatura ao longo da última década (SOSNIK, 2014). Ele apresenta importantes características como não ser tóxico, ser biodegradável, ter baixo custo, estar prontamente disponível, ser mucoadesivo, biocompatível e uma substância não imunogênica (PAQUES et al., 2014); (HOSSEINI et al., 2013).
O uso da tecnologia farmacêutica, especialmente a incorporação de drogas em micropartículas, para o melhoramento da eficácia, da farmacocinética e diminuição de toxicidade de fármacos tem sido cada vez mais utilizado no desenvolvimento de novas opções terapêuticas das infecções fúngicas. Dentro deste contexto, trabalhamos visando a produção de miltefosina encapsulada em micropartículas de alginato e posterior avaliação do efeito antifúngico em Cryptococcus spp. e no tratamento de criptococose.
Referências:
HOSSEINI, S. M. et al. Incorporation of essential oil in alginate microparticles by multiple emulsion/ionic gelation process. International Journal of Biological Macromolecules, v. 62, p. 582–588, 2013.
LIN, X.; HEITMAN, J. The biology of the Cryptococcus neoformans species complex. Annual review of microbiology, v. 60, p. 69–105, 2006.
PAQUES, J. P. et al. Preparation methods of alginate nanoparticles. Advances in Colloid and Interface Science, v. 209, p. 163–171, 2014.
PERFECT, J. R. et al. Clinical practice guidelines for the management of cryptococcal disease: 2010 update by the infectious diseases society of america. Clinical infectious diseases?: an official publication of the Infectious Diseases Society of America, v. 50, n. 3, p. 291–322, 2010.
SOSNIK, A. Alginate Particles as Platform for Drug Delivery by the Oral Route: State-of-the-Art. ISRN Pharmaceutics, v. 2014, p. 1–17, 2014.