Elúzia Castro Peres Emidio

Meu nome é Elúzia, sou aluna de mestrado do programa de pós-graduação em microbiologia do ICB-USP, e desenvolvo um projeto de pequisa no Laboratório de Fungos Dimórficos Patogênicos sob a orientação do professor Dr Carlos Taborda. Neste laboratório são desenvolvidos diversos projetos de pesquisa com o fungo do gênero Paracoccidioides (Paracoco), contribuindo para o conhecimento da paracoccidioidomicose e buscando o desenvolvimento de uma vacina para esta importante micose.

Vou falar um pouquinho deste projeto de pesquisa e sobre esta doença! Não se assustem com o nome!

O projeto tem o seguinte título:

“Produção de Melanina pelo Fungo Termodimórfico Paracoccidioides lutzii e Análise da Melanina Como Fator de Virulência Sobre a Interface Infecção-Resposta Imune”
Os fungos são organismos classificados em um reino separado das plantas, animais e bactérias: o reino fungi! Que inclui organismos como as leveduras, os bolores, e os conhecidos cogumelos.

Desempenham funções de fundamental importância na natureza. São essenciais na decomposição da matéria orgânica, nas trocas e ciclos de nutrientes, como uma fonte direta de alimentação (cogumelos e trufas) e como agentes fermentadores (pão, vinho, cerveja e molho de soja). Também são usados na produção de antibióticos (penicilina, por exemplo), e, várias das substâncias produzidas por fungos são amplamente utilizadas em indústrias e em outras áreas. Além disso, os fungos têm uma grande importância médica, pois muitas espécies causam doenças no homem, em animais e plantas.

O fungo do gênero Paracoccidioides é de grande importância médica devido à doença que causa: a Paracoccidioiodomicose (PCM). É uma micose que atinge várias partes do corpo, como pulmão, fígado, baço, pele e mucosas, causando uma extensa inflamação que leva a formação de granulomas ou nódulos inflamatórios, que pode resultar na perda da função do órgão.

527_lores

As leveduras deste fungo apresentam vários brotamentos a partir de uma única célula mãe, assim quando observadas ao microscópio, podemos ver formas que se parecem com uma roda de leme ou como Mickey Mouse . Fonte CDC-Phil#527

É uma doença geograficamente restrita a áreas subtropicais da América Latina, onde o Brasil apresenta o maior número de casos, atingindo também Colômbia, Argentina e Venezuela. É muito frequente em populações rurais e pessoas com atividades na agricultura. Apresenta-se como oitava causa de mortalidade entre as doenças infecciosas e parasitárias e a maior causa de mortalidade entre as micoses sistêmicas.

Esse fungo apresenta dimorfismo térmico, isso significa que ele apresenta formas diferentes dependendo da temperatura do ambiente em que ele se encontra. Em temperaturas entre 18° e 25°C ele apresenta forma filamentosa (bolor), que é encontrada na natureza, e é também a forma infectante. Em temperaturas entre 35° e 37°C, esse fungo apresenta forma de levedura, que desenvolve a doença.

Acredita-se que o trabalhador rural ao revolver a terra, inala o pó com os micélios do fungo. Nos pulmões o micélio transforma-se em levedura, e acredita-se que o hormônio feminino estradiol impede essa transformação, o que talvez justifique a maior incidência da doença em homens que em mulheres.

A doença é agressiva, muitas vezes incapacitante, tem evolução crônica, sem tendência a cura espontânea e pode levar a morte. O tratamento é difícil para o paciente pois envolve o uso de medicamentos muito tóxicos e de uso muito prolongado, podendo durar meses ou anos, e mesmo assim tem uma grande chance de recaída, ou seja, de reativação da doença.

Por muitos anos acreditou-se que havia apenas uma espécie dentro do gênero Paracoccidioides, denominada P. brasiliensis. Entretanto, recentemente, estudos filogenéticos revelaram uma nova espécie, P. lutzii, assim chamada para homenagear o médico  Dr Adolfo Lutz, quem primeiro descreveu a doença no início do século XX.

A produção de melanina pelos fungos, de modo geral, tem sido estudada há muito tempo, como um fator de virulência e até de sobrevivência diante dos desafios que os fungos encontram, como as radiações, o sistema imunológico do hospedeiro e as drogas terapêuticas. Assim, produzir melanina é uma forma que os fungos encontraram de se protegerem desses fatores externos. A melanina é um pigmento comum na natureza, presente em todos os reinos e constitui um importante fator de proteção para diversos organismos.

Este projeto tem como objetivo avaliar a produção de melanina por esta espécie recém identificada, e sua relação como fator de proteção do fungo frente a fagocitose, que é um importante mecanismo de proteção que o nosso sistema imune utiliza na tentativa de combater o micro-organismo invasor. Também, queremos avaliar como que as células melanizadas de P. lutzii respondem frente às principais drogas terapêuticas utilizadas no tratamento da PCM.

Alguns estudos anteriores realizados com P. brasiliensis mostraram que células melanizadas apresentam maior resistência à fagocitose e são menos sensíveis às drogas terapêuticas, quando comparadas com células não melanizadas.

Os resultados dos ensaios que obtivemos até o momento, mostraram que células de P. lutzii também melanizam, mas de forma diferenciada entre variações da mesma espécie e quando comparados com P. brasiliensis.

foto11

Nesta foto temos leveduras de paracocco melanizadas.A melanina apresenta-se fluorescente. O teste realizado chama-se imunofluorescência.

Na busca de mais resultados, seguimos com muitos experimentos a serem realizados, acreditando que tais observações irão contribuir para a melhor compreensão da patogênese da PCM.

LINKS EXTERNOS
Vídeo produzido pela Fiocurz
http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/video-paracoco-endemia-brasileira

Para o quê? Paracoccidioidomicose: não é palavrão e tem cura
https://www.youtube.com/watch?v=zzhsIHCOO8I